Abrigos do Pastor
O pastor tinha como abrigo as lapas naturais da serra, as choças, as choupanas e esporadicamente as tocas carcomidas de velhos castanheiros.
A maior parte das lapas formou-se devido a fenómenos naturais. Podiam ser constituídas por um vão entre dois blocos erráticos que um glaciar porventura juntou, como podiam semelhar um V invertido. Eram frequentes em toda a serra em especial na região dos Cântaros, Candeeira, Covão Grande e Nave da Mestra. Os dois tipos de lapas diferiam essencialmente pela forma e número de entradas. A lapa em forma de V invertido, de pedra xistosa, tinha uma única entrada enquanto que para as outras este número era superior.
As mais rudimentares habitações provisórias, as do pastor, não só nas maiores altitudes da Serra da Estrela mas também e sobretudo nos vales, as choças, com forma piramidal, construídas com estacas, palha de centeio ou giestas, eram o exemplo mais típico de abrigos cuja finalidade era resguardar do vento e da chuva. Em locais onde os ventos sopravam forte sempre do mesmo lado, as choças sofriam um abaixamento e o pastor dormia contra o vento.
As choças eram levadas para os diferentes lugares de pastagem dos gados ou para junto das estrumeiras dos mesmos. Por vezes, as choças imitavam as lapas de lousa formando um V invertido muito tosco.
Habitações também provisórias em certas épocas do ano mas não transportáveis, as choupanas, com base redonda e em forma de cone, construídas de troncos de madeira e cobertas de palha ou de mato, assentes no solo, podiam, em princípio, ter duas entradas se bem que uma lhe podia ser subtraída. Este tipo de abrigos apresentava maior estabilidade do que as choças e tinha largo uso em meses mais frios.
Os castanheiros abundavam em Manteigas e a sua utilização como abrigo do pastor era diminuta se atendermos a que os rebanhos eram considerados inimigos dos soutos por nada perdoarem na sua passagem. Só esporadicamente, portanto, o pastor procurava tais abrigos – “tocas dos castanheiros”. As mulheres na apanha da castanha constituíam, duas ou três vezes ao ano, os inquilinos momentâneos de tais tocas.
Bibliografia
Fragmentos do Passado – Manteigas nas décadas de 1950 e de 1960, Nataniel Rosa, 2016